(Por Manuel Tavares, in Facebook, 14/03/2024)
Muitas vezes interroguei-me por que razão cresce a extrema-direita na Europa porque, se fosse por uma questão de escolher alternativas à elite política vigente, já existem uma série de propostas nesse sentido, tanto à esquerda como à direita. A ascensão da extrema-direita na Europa pode ser atribuída a uma série de fatores, mais ou menos complexos; os que são geralmente mencionados são os que seguem e irei comentar um a um, tendo em conta as alternativas que já existem em relação à extrema-direita:
- Crise económica e desigualdade
A recessão económica, a global, e a estagnação económica em alguns países europeus levaram ao descontentamento entre os cidadãos, especialmente aqueles que se sentiram deixados para trás pela globalização e pelas políticas de austeridade.
- Existem inúmeros partidos, que não são de extrema-direita sem assento parlamentar ou que nunca foram governo, que se preocupam igualmente com estas questões.
2. Imigração e crise dos refugiados
O aumento da imigração, especialmente durante a crise dos refugiados de 2015, gerou preocupações sobre a segurança, a identidade cultural e a integração dos imigrantes, alimentando o sentimento anti-imigração.
- Não existe nenhum partido, com ou sem assento parlamentar, fora da área da extrema-direita, que não sinalize este problema, existem é formas diferentes de o enfrentar.
3. Rejeição da União Europeia
Em muitos países, a insatisfação com a União Europeia (UE) e sua suposta interferência na soberania nacional tem impulsionado o apoio a partidos de extrema-direita, que frequentemente defendem políticas anti UE e nacionalistas.
- Existem inúmeros partidos. com e sem assento parlamentar, que apontam fragilidades ao processo europeu. Uns de forma mais afirmativa que outros é verdade, mas colocando o dedo nas mesmas feridas. Podem é preconizar soluções diferentes da extrema-direita, nomeadamente uma mudança radical das próprias instituições europeias, por forma a torná-las menos burocráticas e mais próximas do cidadão comum.
4. Descontentamento com a elite política, nomeadamente com a sua ligação a casos de corrupção
A perceção de corrupção, elitismo e desconexão por parte da classe política estabelecida tem alimentado o apoio aos partidos de extrema-direita, vistos como alternativas mais “outsiders” e autênticas.
- Sempre existiram partidos que nunca foram governo, ou fora do quadro parlamentar, que preconizam medidas mais eficazes contra a corrupção e o nepotismo. A extrema-direita tomou essa bandeira como sua mas, a realidade, é que existem há décadas movimentos comprovadamente sólidos na luta anticorrupção que nunca obtiveram um apoio popular significativo.
5. Identidade cultural e nacionalismo
O ressurgimento do nacionalismo e o desejo de preservar a identidade cultural, especialmente em face da diversidade cultural e da globalização, têm levado ao apoio a partidos de extrema-direita que promovem políticas nacionalistas e anti multiculturalismo.
- Existem inúmeros movimentos partidários que nunca foram governo ou fora dos parlamentos que são extremamente críticos da globalização. Isso não significa que apelem ao racismo e xenofobia, ou que sejam menos vigorosos na defesa da cultura e identidade cultural de cada país como um valor essencial para a própria diversidade do planeta.
Todos estes fatores variam em importância, dependendo do contexto específico de cada país, mas em conjunto contribuem para o crescimento da extrema-direita na Europa. Tendo em conta que há alternativas quais são as razões possíveis que estão a levar à ascensão do populismo de extrema-direita?
O populismo, caracterizado pela retórica simplista, anti-establishment e apelo direto às emoções básicas do eleitorado, tem sido uma estratégia eficaz para muitos partidos de extrema-direita ganharem apoio popular. Muitos comparam o atual período àquele que antecedeu a Segunda Grande Guerra Mundial.
Existem, de facto, alguns pontos em comum. Se analisarmos o que levou ao sucesso dos movimentos de extrema-direita poderemos encontrar pistas importantes para o que está a suceder atualmente. Sendo assim a eficácia da retórica da extrema-direita entre as duas guerras mundiais pode ser atribuída a várias razões:
1. Carisma dos líderes:
Líderes fascistas, como Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha, eram carismáticos e habilidosos em manipular as emoções das massas.
2. Promessa de estabilidade e ordem:
Num período de instabilidade económica e política, o fascismo oferecia uma promessa de ordem e estabilidade, promovendo uma sensação de segurança entre os cidadãos.
3. Simplicidade da mensagem:
A retórica fascista era muitas vezes simplista e direta, apresentando soluções simples para problemas complexos, o que a tornava mais acessível e persuasiva para o público em geral.
4. Exploração do ressentimento e do nacionalismo:
Os líderes fascistas exploravam sentimentos de ressentimento e humilhação nacional após a Primeira Guerra Mundial, canalizando-os para sentimentos nacionalistas e de superioridade racial.
5. Propaganda eficaz:
Os fascistas investiram pesadamente em propaganda, de forma a difundir a sua mensagem e criar uma imagem idealizada do estado e do líder.
6. Sistema de culto da personalidade:
Os líderes fascistas foram habilmente promovidos como figuras heroicas e salvadoras, cercadas de um culto da personalidade que os tornava quase divinos aos olhos de seus seguidores.
7. Exploração do medo e da insegurança:
O fascismo capitalizou o medo e a insegurança das pessoas em relação ao futuro, apresentando-se como a única alternativa capaz de restaurar a grandeza nacional e garantir a sobrevivência do país. Esses fatores combinados contribuíram para a eficácia da retórica fascista e para o aumento do apoio popular a esses movimentos de extrema-direita durante o período entre as duas guerras mundiais.
Como dizia o escritor e filósofo George Santayana: “Aqueles que não aprendem História estão condenados a repeti-la.”
A estratégia do voto útil resultou no reforço da extrema direita! E de quem é a responsabilidade?
Foi a arrogância sobretudo do PS e de parte da intelectualidade burguesa, dita de esquerda, cujas análises se fazem mais a partir das suas barrigas do que do cérebro, que empurraram os portugueses para posições que, à primeira leitura, se apresentam como irracionais.